Na Prática – Entrevista Florian Bartunek
agosto 2015
Na Prática: Entrevista com Florian Bartunek
Florian Bartunek, sócio-fundador e CIO da Constellation Investimentos, explica as diferentes possibilidades de carreira no mercado financeiro e as oportunidades de aprendizado e exposição em cada uma delas
Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) quando viu colado no muro da faculdade um anúncio do Banco Pactual procurando estagiários. Marcou uma conversa e três dias depois estava estagiando no setor de análise. Em um ano, já era chefe do departamento. Em cinco, passou a ser sócio.
Em bate-papo com o Na Prática, Florian conta que, quando entrou no banco, a empresa era pequena, crescente, acreditava em meritocracia e era, portanto, bastante fértil em oportunidades e aprendizado. “Em companhias menores você tem mais oportunidades de exposição e autonomia, enquanto em empresas mais estruturadas você aprende processos e métodos que já se provaram eficientes”, compara.
Durante os oito anos em que permaneceu no banco, Florian foi chefe de research, trader proprietário, responsável pelo asset management e gestor de todos os fundos e portfólios de ações, entre eles o Infinity, considerado o fundo offshore mais rentável do mundo entre 1991 e 1996, e o Andromeda, primeiro no ranking de ações no Brasil por três anos seguidos.
Para quem ainda está na faculdade, diz que o estágio é uma experiência importantíssima pelas circunstâncias de trabalho que propicia: “Você joga mais solto”. Ele também destaca que a dedicação do aluno nos estudos é mais importante do que a suposta qualidade ou fama da faculdade. “Estudar e ler foi o que fez a diferença na minha vida. No mercado financeiro e em outros também as coisas vão evoluindo e, se você não se atualiza, você fica para trás”, aponta.
Já um aspirante a analista deve ser curioso, ter ética e ser generoso. “O núcleo da função não é finanças ou questões matemáticas, e sim procurar um conhecimento ou opinião sobre trajetória das empresas, conversar com muitas pessoas e treinar essas relações. Espera-se que o analista seja focado em seu trabalho presente, mas ao mesmo tempo se prepare para o futuro”, diz. Como não é possível experimentar todas as áreas antes de decidir por uma, Florian sugere que o jovem aprenda a reconhecer suas habilidade e entender suas afinidades. “Todas as áreas podem ser igualmente gratificantes e financeiramente interessantes.”
Em 1999, foi um dos fundadores da Utor Asset Management, empresa criada para gerir os recursos do trio de ex-controladores do Banco Garantia: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. Lá, foi gestor do portfólio de ações por quatro anos quando, juntamente com Jorge Paulo, decidiu dar acesso a investidores externos e ampliar estratégia de sucesso criada por eles. Foi assim que surgiu a Constellation Investimentos, uma asset independente especializada na gestão de ações brasileiras com um foco em análise fundamentalista e um rigoroso processo de investimento que engloba atualmente duas estratégias de ações: long-short e long-only. Ao longo dos últimos anos, tornou-se uma das mais conhecidas assets brasileiras no exterior, administrando hoje 3 bilhões de reais em ações.
“Fico muito feliz quando não estou na empresa, e as coisas estão acontecendo exatamente do jeito que deveriam acontecer, com organização e disciplina. Se tudo está correndo bem, mesmo sem você lá, é porque virou cultura. A inexistência de uma cultura gera insegurança. As pessoas querem um trabalho legal e honesto, do qual possam se orgulhar”, diz. Para ele, o trabalho de um bom líder é maximizar o potencial das pessoas com quem trabalha. “Também é essencial demonstrar empatia e interesse no desenvolvimento do time, e liderar por admiração, não por medo. As pessoas precisam se sentir confortáveis para te alertar sobre seus pontos cegos.”
Depois de trabalhar tanto tempo ao lado do maior empresário do Brasil, Florian diz que o que mais admira em Jorge Paulo Lemann é sua capacidade de simplificação. “Ele é uma pessoa muito acessível, que gosta de estar com jovens e dar oportunidades a eles. Seu olho brilha quando vê um jovem se desenvolvendo ou contando uma história de sucesso. Tem uma forma olhar para filantropia muito interessante, da mesma forma que olha para os negócios: quer fazer uma coisa grande, fazer a diferença, fazer bem feito”, diz.
Florian participa desde 2010 da Young Presidents’ Organization (YPO) da escola de negócios de Harvard, uma seleta rede de líderes globais que atingiram o sucesso profissional antes dos 45 anos de idade e assumem um compromisso com o aprendizado de ponta e o desenvolvimento através da educação – é, inclusive, presidente do braço paulista da organização.
Além da carreira de investidor, Florian já foi professor do curso de Value Investing no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e diretor da área internacional da Anbid (Associacao Nacional dos Bancos de Investimento). Também tem atuação destacada no terceiro setor – é vice-presidente da ProA, uma das maiores ONGs ligadas a educação profissional no Brasil, e participa do conselho da Fundação Lemann e da Fundação Estudar. No mundo das artes, é um reconhecido colecionador e membro do conselho do Museu de Arte de São Paulo (MASP).